domingo, 30 de março de 2008

SAUDADE...
Às vezes a saudade não cabe dentro de mim. E o espaço dos momentos que já foram se embriagam nos limites do tempo que não pára, construindo um labirinto de tórrida amnésia alcoolizada e vestida sobre o ócio, pela eterna procura da pele afinada em tom de ajustamento e leveza. Espalhadas no vazio provocado por buracos incolores e atrofiados pelos músculos do casamento, eu assopro palavras que desarmam o vivido ser que fui, da cor que me é das mais sem cor, o preto encardido das desavenças, maculadas pela falta e ao mesmo tempo pelo alivio da ausência, desabitando em mim o que poderia hospedar melancolia infinda. Feito um garçom imantado com ofertas do agora, espero de bandeja degustar do destino, o tempero preparado por moléculas reagentes na química de uma nova fantasia, que já fermenta envelhecida em tonéis de ansiedade pelo fim do que sempre parecia ser começo.
Que me importa estar de frente pro futuro enxergando a genitália do passado ?
Saudade não é sexo monolítico nem paisagem enxertada de desejos de carência.
Saudade não é soma estéril, é o stereo do pensamento.
Saudade é o que eu sinto e o que vejo, às vezes combinada com ciência, debruçada sobre os ombros do nascer que não se acaba.
Saudade não é tempo inaugurado nem esforço masturbado na cama do livramento.
Saudade não é fórum de amizade se não veste a outra metade com o prazer, aprisionado no tribunal do esquecimento.
Saudade não tem lado nem idade, nem se mostra de verdade se falasse ao sofrimento.
Sendo assim pra que saudade ?
Pra sentir que já não sinto ?
Pra clonar comodidade ?
Saudade é a ilha de edição do imaginário, não abona nem dá falta à realidade. É um presente do passado no presente, sem prazo de validade, sem rancor, sem liberdade, se o sabor fica na mente.


10 comentários:

Vanessa Libório disse...

Saudade é o que nos envolve por não sermos capazes de congelar o presente! Mas somos capazes de eternizar o momento vivido!
Beijo no meu Grandão!!!
Saudades....

Vanessa Libório disse...

Saudade é o que vai na minha mala do Galeão à Val-de-Cans....

Unknown disse...

Acho que essa jornalista está com cara de poeta, cheia de metáforas ricas. Deveria emprestar sua capacidade de escrever tão bem crônicas à poesia. Sairíamos ganhando com certeza. Saudades

O Movimento disse...

esta demais teu blog Parabéns.
agora relamente sei o que é saudades de verdade e esse teu texo esta falando tudo o que estou passando longe de casa.

beijos, saudades

se lingua no tremor da lingua.

IVRIT disse...

Saudade... O presente que não mais se presentifica...
É congelar os momentos inesquecíveis..
Sofrer tentando dissolver tudo que não mais queremos lembrar...
Guardar os doces amargos momentos do compartilhar
E o degustar do ácido sabor de não mais estar....

Lucinha Valois

Marco!!! Amei o seu texto menino... Chegou a me inspirar!!!! Rsrsrsrs
bjasssssssssssssssso

CARIMBLOG disse...

Pois é Lucinha !!! E que inspiração hein ! Que bom saber que o que escrevemos desperta nos outros palavras bonitas de se ler. Um beijão e volte sempre por aqui.

Nanete Neves disse...

Marco, menino, amei esse texto. Saudade é mesmo uma coisa complicada às vezes. Adorei quando disse algo como "buracos de músculos atrofiados pelo casamento"... Caramba... a sua pena é mesmo afiada ao lidar com imagens e palavras. Parabéns!

Anônimo disse...

"Saudade é a ilha de edição do imaginário, (...). É um presente do passado (...), sem prazo de validade (...), se o sabor fica na mente."
Uau!
Meu peixe, jamais havia lido algo tão profundo sobre tema tão decantado, que de tão óbvio, como acima posto, às vezes passa, silente e a gente se entrega à mesmice da racionalidade e deixa de ver e compreender a mágica do que é realmente a saudade!
Nossa que saudades de você, a mim resta de vez em quando reeditar meus passados para curtir a idéia dos que me são queridos e estão de mim tão distantes no presente!
Beijos com carinho e parabéns por algo tão belo,
Ana Isa

CARIMBLOG disse...

Minha peixinha, acho que a inspiração vem dos tempos de nosso tão querido colégio. Como tenho saudade daqueles tempos ! Como é bom a gente ver tão bem redigidas palavras carinhosas em comentário saudoso. Um beijo enorme em teu coração.

Antonio Juraci Siqueira disse...

Meu caboclo,

Camarão preso na grade
do matapi resistente:
é assim que vejo a saudade
presa no peito da gente!...

Há braços!