sexta-feira, 26 de setembro de 2008


ATOL DOADOS

Até
Atol
Atado
À tarde
Ator doado
À pedra
Ao pé da rã
A perdurar
Ao sol
No sal
Do teu suor
Nas rocas
Das rochas
Das roucas gaivotas
Voltas a ti
Devotas

Agora
Agarro
guelras
guias
gorros
Das manhãs
Que agarras
Das cigarras
E num cigarro
Tragos
Trazes
Topo
Seis afagos
Tocas fogo
Te afogo
Em Cagarras


Ilhas
Olhos
Hulhas
Ôlas
Ulas
Lulas

Braços
Nos pedaços
Nos contornos
Dos adornos
Dado em dois

Torço o bucho
Tusso
Dói o osso
Triturado
Amarrado
Em nós
Mergulhados
Agulhados nus
Mareados
Mar errado
Enredados
Em ré dá
Dos ares maus

quinta-feira, 4 de setembro de 2008


Eu chorei pela Portela o choro da alegria, de um Brasil gigante.



Eu às vezes demoro em atualizar o CARIMBLOG. Mas, depois de algumas leituras, idas ao cinema e informações recebidas de jornais, volto até aqui para podermos entrar em sintonia novamente.

Primeiramente eu gostaria de dizer a todos que assistam ao filme idealizado por Marisa Monte e pela Conspiração Filmes, sobre a Velha Guarda da Portela. Uma fita genuína, onde verdadeiros artistas brasileiros fazem uma declaração de amor ao samba de primeira. Verdadeiros na mais pura essência da palavra, por construírem através da inspiração muitas vezes ingênua, que brota de dentro da alma espontaneamente, a arte que dignifica o ser humano. Bem distante daquela arquitetada especialmente para o consumo alienado, poluída por mentes que se utilizam da pouca escolaridade, alimentada pela desnutrição cultural de nosso povo, parecendo estar perfeitamente em sintonia com o Brasil eternamente faminto de cidadania, sob a efemeridade de celebridades que industrializam a pobreza dos sentimentos. Só por isso eu já seria eternamente grato a Marisa, se não fosse ela uma das maiores cantoras da última geração de nossa MPB. Eu chorei pela Portela, por sentir que nada vingará mais importante na vida do que o sentimento da criação brotado ao sabor da verdade.

Será que a favelização dos roteiros brasileiros vão perdurar para sempre ?
Como diz Walter Moreira Sales; “ Não agüento mais assistir filmes que apenas julgam a sociedade, prefiro fazer filmes que ajudem a construí-las”. Assino em baixo. E que produzam mais documentários como o citado acima, mostrando que um Brasil tão pobre enriquece aos olhos de quem assiste Madureira e Osvaldo Cruz sambando.

Algumas coisas aconteceram durante essas semanas que não atualizei o BLOG, as Olimpíadas, por exemplo. E por falar nelas, gostaria de tecer algumas opiniões sobre esse grande encontro pacífico da humanidade.

Meu último candidato à presidência da república, Cristovam Buarque, escreveu um excelente artigo no GLOBO associando a queda de Diego Hipólito à queda do muro de Berlim. Cristovam consegue discorrer sobre o tema, de forma a mostrar que tanto a queda de nosso atleta como a do muro que separava as duas Alemanhas, estão ligadas a erros políticos cometidos tanto no passado como no presente, onde a utopia de se construir uma sociedade justa parece realmente ter sido desmoronada pela falta de investimentos no próprio homem através do esporte, da educação e da cultura.
A inverossímil liberdade construída pela falta do contraditório e através do monopólio de uma única nação no mundo, realmente não conseguiu esconder todos os problemas que vivem hoje os países governados sob a tutela dos socialistas antes da queda do muro, e não elevaram o terceiro mundo ao degrau de segundo, ao menos na esperança e na qualificação ficcional. Mais um belo texto de nosso senador.

Eu ousaria dizer que somos um povo com uma personalidade acomodada, munida de muito conformismo, cercado por uma mídia ufanista que cria mitos e falsa imagem de uma sociedade que se embriaga dormente. Jamais seremos uma potência olímpica se não transformarmo-nos em uma potência cidadã. Inventam e aceitamos ídolos cheios de deficiências, subnutridos pela alimentação de egos inflados pela incoerência de opiniões muitas vezes vazias e sem conteúdo, principalmente por conta do poder que a televisão tem em nosso território.

O esporte vitorioso traduz imediatamente a força de uma civilização, o investimento em educação, cultura, cidadania. Na verdade fazemos parte de um povo que não reage como deveria diante de tantas mazelas, que não carrega em sua alma o ímpeto pela luta por direitos nunca dantes adquiridos. O ufanismo de uma parcela de nossa imprensa na busca constante por atletas/heróis ainda despreparados para ocuparem o posto de exemplo a serem seguidos, sem que os mesmos sejam culpados pelo próprio despreparo, para que supram a falta dos que de verdade não existem, é impressionante.

O Brasil agoniza através das lentes televisivas, das páginas dos jornais e revistas sensacionalistas, que invertem a mão da história tentando fazer que um povo, sem o mínimo de discernimento cultural, acredite ser forte naquilo que na verdade ainda não é, como nos esportes olímpicos.

Também temo em perceber que por sermos um país onde a fé é negociada em cada esquina, não consigamos absorver dentro de cada um de nós a prova de que somos capazes de vencermos todas as adversidades da culpa, proporcionadas principalmente pela influência de parte da igreja católica menos progressista.

Eu me impressiono como os atletas brasileiros reagem diante de derrotas e vitórias. No futebol, por exemplo: Se nosso jogador entra em campo, se benze, se perde um gol, se benze, se faz um gol, se benze e ergue as mãos para o céu, se dá entrevistas justifica que deus foi o único responsável por sua glória, se ganha um campeonato se reúne em meio a quadra para rezar junto com seus pares. Espera aí, nada contra os que evocam a religião, mas, e o esforço para se chegar a vitória não existe ? Nem na Itália, país onde habita o papa, fervorosamente católico, vejo algum atleta ponderar que as forças espirituais sobrepõe-se aos suores brotados pelos poros da ambição pela vitória.

As conquistas estão muitas vezes nas atitudes e não nas medalhas adquiridas. Precisamos ter a capacidade da indignação, do arrebatamento, de saber passar por obstáculos que por vezes parecem impossíveis e intransponíveis. Será que o choro incontido e reprimido por não nos aceitarmos vencedores não vai parar de jorrar através das lágrimas de nossos atletas e os mesmos pedirão sempre a ajuda do simbolismo religioso para acreditarem em suas forças ?
Imagino eu, que enquanto nossas vitórias estiverem na maioria das vezes excessivamente ligadas ao subjetivo que rege a fé, nos sentiremos mais fracos diante de nossos adversários que não estão. Que a fé ajude a nos sentirmos plenos para seguirmos de encontro aos nossos objetivos sim, mas, que ela não apareça onipresente nos fazendo crer que só podemos sair vencedores com ajuda divina.

Esse molde se dá em todas as facetas de nossa sociedade. Somos de uma passividade por vezes incomum e nosso poder de reação e de crítica é quase nulo. Lembram do aviãozinho na chegada do maratonista brasileiro que se conformou com a medalha de bronze quando foi roubado escandalosamente em Atenas ? Será que um anglo-saxão chegaria sorridente e feliz, elevando as mãos ao céu inteiramente agradecido pelo feito conseguido, como fez nosso humilde Vanderlei, e não reclamaria pelo acontecido ?
Será que o tal vôo sublinhado através do gesto de nosso atleta não se entrelaça ao caos recente de nossa malha aérea ? Continuaremos apenas rezando por mortos estampados em camisetas até quando, até um outro acidente ? Custo a acreditar em um povo que não enfrenta seus problemas através de manifestações que possam transformar realmente a sociedade em que vivemos, exercendo o direito de exigir de seus governantes investimentos básicos para se construir uma coletividade esclarecida e com opiniões abalizadas, construídas através da ética e da coragem. Deus definitivamente não é só brasileiro, acreditem !

Um país para ser campeão olímpico tem de erradicar o analfabetismo, investir desde cedo nos esportes, tornando-os obrigatórios nos colégios para inclusive tirar nossas crianças da falência completa, das drogas, do desamparo. Esse Brasil tem de ser mais cultural, ter a educação como lema para que o povo possa discernir o que é verdade do que não é. Chega de tanto sensacionalismo, de tantos programas baratos e atrofiados por fofocas em nossa telinha, de tantas celebridades inverossímeis transformadas em artistas fracos, de tanta falta de ética, de tanta política de sacanagem, de tanto comodismo Brasil ! Chega de jornalistas que não lêem exatamente o que esse país precisa, que sempre estão de mãos atadas ao ufanismo anacrônico, que criam mitos e gênios que se apagam através das frustrações anunciadas a cada uma de suas narrações. Eles com certeza são também responsáveis pela falta de condicionamento emocional de nossos atletas junto a falta de políticas sociais de nossos governos.

Os atletas brasileiros devem-se sentir aprisionados em seus altares de deuses, em seus egos perturbados pela mania do enaltecimento exagerado e não verdadeiros. É impossível não se sentir pressionado quando se tem tanta responsabilidade nos ombros. É por isso que choramos tanto, porque para nós a vitória ainda não é natural, imagino.

Creio que o nosso choro na maioria das vezes não é nem de tristeza nem de alegria. É um choro destemperado, pois vencer para nós ainda é estranho diante das imensas dificuldades apresentadas no dia a dia da nação. Perder para nós também é de uma dor incalculável, por nos sentirmos melhores do que somos de verdade, influenciados geralmente pela mídia equivocada das análises ufanistas.

Esse país tem quase 200.000.000 de habitantes, um clima propício para o esporte. Esse país tem uma das maiores economias do mundo e continua na pobreza.

Acorda Brasil !!!!!!
Chega de violência, de uma imprensa que esmaga a cabeça dos que não tiveram a sorte de estar entre os mais favorecidos. Nossos atletas na maioria são pobres, vem da roça, do cabo da enxada, sem acompanhamento fisiológico adequado, sem um acompanhamento nutricional, psicológico, com histórias trágicas de família, sem possuir muitas vezes material adequado para a prática esportiva e obviamente isso se reflete no desenvolvimento esportivo. Somos uma nação olimpicamente empobrecida pela falta de políticas de cidadania.

Bem, para não parecer tão pesado esse texto, pois sempre venho até aqui para falar de saudade, amor entre outros temas através de minhas poesias publicadas, gostaria de encerrar dizendo que a música brasileira me comove sempre e me traz leveza eterna. Eu vejo que não só o esporte é importante, mas que através dela podemos chegar ao degrau de um povo desenvolvido e feliz. Vamos abrasileirar a nossa alma, vamos ouvir mais a nossa música, vamos pedir mais atenção à ela, à nossa cultura tão rica e importante para a formação de nossos jovens. Vamos adotar o que é nosso e nos enxergar mais diante daquilo que produzimos com verdade, sem tanto estrangeirismo. A música brasileira é com certeza um dos maiores e mais respeitados tesouros da criação humana adotada pelo mundo com respeito e que pode ajudar no desenvolvimento de nossa sociedade.

Depois do filme da Portela fui ver Desafinados. Não achei um grande filme, mas, suficientemente bom para perceber o quanto a nossa produção musical é de uma riqueza impressionante. A bossa nova por aqui sempre foi música popular, e no berço do Jazz, EUA, é considerada artigo de luxo até hoje, pertencente à classe dos clássicos da música mundial. O final do filme é comovente, vão ver.

Que bom seria que o Brasil pudesse sempre harmonizar melodias em contato com a arte engajada, sem ser piegas ou panfletária, capaz de enriquecer o nosso povo de alegrias condizentes com uma formação de primeira. Pois, o alimento para isso nós já possuímos, a criatividade, que, regada à base de políticas sociais sérias, suplantará a plantação de melancias abundantes agachadas em nossa fauna musical de hoje em dia.

O DVD que gravamos ainda está em fase de finalização. Estamos tentando ser os mais perfeccionistas possíveis, para que possamos emocioná-los através de uma Amazônia bem brasileira, moderna e verdadeira.

As opiniões demonstradas aqui são pessoais sem a pretensão de estarem com os braços dados com a verdade. Deixem as suas e que possam divergir das minhas. A democracia sempre regerá o CARIMBLOG.

Marco André.